A História de Patópolis

*No final do artigo poderão encontrar os links (clicar nas capas) para o 1º, 2, 3º, 4º e 5º episódios desta Saga!
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A História de Patópolis

Há 21 anos, uma grande saga Disney foi criada no Brasil. 
Conheça um pouco mais sobre essa divertida cidade


Por Marcus Ramone 

Muitos podem não saber, mas, nos Estados Unidos, os personagens Disney moram em duas cidades distintas. Mickey e os coadjuvantes habituais de suas histórias (Pateta, Minnie, Clarabela, Horácio e outros) vivem em Mousetown, algo como Ratópolis. Já Donald e os demais vivem em Duckburg.

O mesmo acontece na França, onde eles se dividem entre as cidades de Mickeyville e Donaldville. Na Itália, Topolinia, cujo nome faz referência ao Mickey (Topolino, em italiano) é a cidade dos ratos; e Paperopoli é onde vivem os patos.

Para os brasileiros, Patópolis é onde, há mais de 50 anos, as aventuras desses personagens se desenrolam. Uma cidade que teve a honra de protagonizar alguns números de Disney Especial e, na década de 1990, chegou a ganhar um título próprio, Aventuras em Patópolis.

Também por aqui foi feita a maior homenagem que a cidade já recebeu: em 1982, a Editora Abril lançou A História de Patópolis, uma magnífica saga contando sua origem em cinco episódios divididos entre os principais títulos Disney.

Com textos de Ivan Saidenberg e desenhos de Roberto O. Fukue, Verci de Mello e Euclides K. Miyaura, A História de Patópolis alcançou fama internacional, fazendo sucesso em países como França, Itália e Dinamarca.

Tendo em comum a mítica pedra do jogo-da-velha, que estava sempre presente em importantes acontecimentos da história patopolense, tornando-se peça fundamental no desenrolar de alguns dos eventos mais decisivos, os episódios foram narrados pelo Professor Ludovico, e seus ouvintes eram alguns dos principais personagens Disney, que assistiam à parada de aniversário da cidade.

Pena Rubra, o Viking 
(Mickey # 359, Setembro de 1982)

Tudo começa no século 10, em algum país nórdico, quando Pena Rubra, antepassado do atrapalhado Peninha, é mais uma vez despedido do jornal A Pataruna. A partir daí, as confusões na vida do pato só aumentam, quando ele se junta a um grupo de músicos vikings, e faz crer a todos que é um exímio velejador, vagando pelos mares em direção à China.

Obviamente, seu peculiar senso de direção o faz levar a embarcação à desconhecida América.


Lá, preso pelos índios enquanto seus companheiros músicos escapavam, Pena Rubra passa a conviver com eles e se torna o "espantador de espíritos" da aldeia, ao tocar horrivelmente sua guitarra acústica. Acaba presenciando um pitoresco jogo disputado pelos nativos: o jogo-da-velha, cujas peças eram, literalmente, velhas índias gordas e magras.

Ao inventar uma forma mais fácil de se praticar aquele jogo, escreve uma representação gráfica numa pedra e cria o jogo-da-velha como hoje conhecemos.

 Depois, retorna ao seu país de origem, mas a pedra do jogo-da-velha fica esquecida naquele local que, muitos anos depois, viria a se tornar Patópolis.



A Invasão dos Piratas (Tio Patinhas # 207, Setembro de 1982) 

Neste segundo episódio, Zé Carioca chega à parada, como convidado do prefeito da cidade, e ajuda a contar como seu tataravô, Zé Cariboca, teve participação marcante na história de Patópolis.

Engajado no navio pirata do capitão El Borrón, tataravô do Mancha Negra, Zé Cariboca estava prestes a participar do ataque à então Vila Patópolis, cujas defesas eram lideradas pelo próprio fundador, Cornélio Patus.

Na noite anterior, no entanto, resolve desertar e ruma à terra firme. Avista a linda Rosita, por quem se apaixona. Mas ao ser visto por um morador, é perseguido e retorna ao navio, não sem antes se esconder nas ruínas da primeira vila e tropeçar na pedra do jogo-da-velha.
No navio, convence El Borrón de que teve a "visão" de um mapa do tesouro numa pedra em Patópolis. Rumam todos para terra, e lá, Zé Cariboca desvia os piratas mata adentro, em busca do tal tesouro, para livrar a vila da bela Rosita do ataque.

Os piratas perdem as armas num confronto com os índios corvos e, logo depois, são capturados pelo povo da vila, onde são julgados e condenados. O papagaio é poupado, como reconhecimento pelo fato de ter desviado os bandidos de Patópolis.

Uma boa história, cheia de passagens hilárias, como a que Zé Cariboca foge dos índios com a maior facilidade, gabando-se de ter adquirido boas condições físicas correndo dos cobradores em sua terra natal.

Correio a Cavalo (Mickey # 360, Outubro de 1982)

No Velho Oeste patopolense, o Xerife Cintra solicita a ajuda dos cowboys Mikélio e Patético (bisavôs de Mickey e Pateta, respectivamente) para buscar uma mensagem do Presidente, endereçada ao povo de Patópolis.

Um trem que trazia a mensagem estava parado no caminho, pois os vilões Bafão e Escovão (notoriamente, bisavôs de João Bafo-de-Onça e Escovinha) haviam danificado os trilhos.

Capturados pelos bandidos, os três mocinhos são obrigados a escavar uma mina clandestina, onde Patético descobre, por acaso, a pedra do jogo-da-velha. 

Dominando alguns bandidos que vigiavam a mina, Mickélio e Patético partem a cavalo rumo à cidade, a fim de entregar a mensagem do Presidente. Duelam com Bafão e vencem.

Em seguida, o "cavalo de ferro" chega a Patópolis (após o conserto dos trilhos) trazendo a mensagem de felicitação do Presidente ao povo daquela cidade, pela vinda do primeiro trem àquele local não mais isolado do país. A pedra do jogo-da-velha também foi levada e, reconhecida pelo Professor Von Pattus, guardada no museu.

Muito divertida a aventura, que lembrou bastante as famosas histórias de mocinho e bandido de Mickey e Pateta, feitas por Paul Mury, mas com muito mais humor. O bisavô do Pateta estava impagável, e bem se viu de quem ele herdou a, digamos, "patetice".

O Século das Luzes (Almanaque Disney # 136, Outubro de 1982)

Pardalto, o avô do Professor Pardal, era um inventor maluco que, em 1910, descobrira um cometa que se aproximava da Terra e nela tocaria a cauda (alguém aí citou o Halley?). Aprontando mil confusões ao tentar alertar os patopolenses de que não havia motivo para pânico, o cientista termina por piorar as coisas.

O Professor Gaviâncio, avô do Professor Gavião, resolve se aproveitar do caos gerado, com o intuito de roubar a cidade com mais tranqüilidade, na hora da passagem do cometa.

Fugindo da polícia, ao ser reconhecido como aquele que tentou roubar a caixa-forte de Patinhes (tio sabem de quem?), refugia-se no museu e encontra, jogada num canto, a pedra do jogo-da-velha. 

Disfarçando-se de profeta, atiça a superstição do povo proclamando o fim do mundo e apresentando a escrita na pedra histórica como sendo uma antiga profecia.

Mas tudo dá errado. O bandido é preso e a pedra é levada ao salão de honra do museu, ao ser novamente reconhecida por outro antepassado do Professor Ludovico.

Excelente episódio, com interessantes referências históricas e um humor centrado nas geringonças esquisitas de Pardalto, com destaque para o megafonocóptero, uma mistura de megafone e helicóptero, com o qual o inventor passou boa parte da história.

O Poderoso Metralhão (Mickey # 361, Outubro de 1982)

Sem dúvida, a melhor história da série. A aventura se passa em 1930, quando Patópolis sofre as investidas do gângster Al Metralhone.

Praticando assaltos com armas de brinquedo (sem que as vítimas saibam desse detalhe, é claro), os alvos eram, inusitadamente, carrinhos de frutas, posto que o bandido mantinha um clandestino alambique de sucos naturais.

Quando resolvem fazer um "assalto de verdade", Al Metralhone e sua gangue escolhem Tio Patinhas como vítima, durante a festa de inauguração de sua Caixa-Forte, onde a pedra do jogo-da-velha estava sendo exposta no salão principal.

Frustrada a tentativa de assalto (a fortuna do pato muquirana ainda não tinha sido transportada para o prédio), os gângsteres são presos.

Muitas foram as situações cômicas desta aventura e, divertido mesmo, foi ver Donald e Peninha ainda garotos; o Tio Patinhas inaugurando sua Caixa-Forte (muito antes de Don Rosa mostrar isso na sua magistral Saga do Tio Patinhas); o Coronel Cintra ainda tenente; e o Professor Ludovico um adolescente.


Novos elementos


Em março de 1987, a revista Tio Patinhas Especial # 4 trouxe a republicação de toda A História de Patópolis, acrescentando dois novos episódios, situados antes dos eventos já conhecidos, com textos de Gérson Teixeira e desenhos de Irineu Soares Rodrigues.

O primeiro, Patópolis na Idade da Pedra, uma aventura muito engraçada que mostra que os antepassados de Donald e Margarida foram os primeiros a pôr os pés na terra dos patos, há milhares de anos.

Entretanto, como nem tudo são flores, ocorreu uma discrepância na história: como forma de fazer uma agenda de tarefas diárias para Donalgorg, sua irrequieta esposa acaba originando a pedra do jogo-da-velha. Isso foi de encontro ao que se veria algumas páginas adiante, quando Pena Rubra cria o artefato.
O segundo episódio, Embarcando numa galera furada, não tem o mesmo brilho, nada acrescentando à saga. Talvez com o intuito de divulgar mais o personagem Boinifácio, a então mais nova criação do Estúdio Abril, a aventura narra as peripécias desse desastrado ruminante no Egito antigo.

O fato mais relevante da trama foi quando a pedra do jogo-da-velha serviu de trampolim para que uma enorme rocha afundasse a galera onde estava Cleópatra, no litoral da futura Patópolis.


Passados tantos anos desde a última publicação da origem da cidade dos patos, já está mais do que na hora de apresentá-la às novas gerações de leitores.

Com a recente estréia da revista Grandes Aventuras Disney, cuja proposta é republicar antigas sagas, ainda existe um fio de esperança de se ver novamente A História de Patópolis nas bancas do Brasil. Que Cornélio Patus nos conceda essa graça.



*Texto originário do site Universo HQ. O Original pode ser lido aqui

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