Disney em Portugal

Um estudo histórico sobre a origem dos gibis Disney Portugal
Por Mário Leitão  


INTRODUÇÃO

Em Portugal as revistas de quadrinhos (ou gibis) recebem o nome de revistas de quadradinhos ou revistas de banda desenhada (do francês: bande dessineé). É, no entanto, muito comum que os portugueses se refiram a estas publicações como sendo “os patinhas”. Desta forma está garantido que o Tio Patinhas fica ligado aos falantes de Português de uma forma indelével.

Em Novembro de 2008, por ocasião das comemorações dos 80 anos do Mickey, circulou uma notícia nos meios de comunicação social portugueses onde constava o seguinte: “Nos anos 1950 surgiu uma nova publicação "Rato Mickey" editada pela Agência Portuguesa de Revistas, mas a verdadeira massificação ocorreu nos anos 1980 através das revistas da Disney provenientes do Brasil”.A notícia saiu igual em vários locais e parece que ninguém deu pelo erro. Ainda consta, assim tal e qual, em vários sites na Internet!

Para abreviar, as revistas Disney foram importadas do Brasil provavelmente desde os anos 30 até ao início dos anos 80. No que toca à importação há provas de que a partir dos anos 30 várias publicações do Brasil chegaram a Portugal: O Tico-Tico, Suplemento Juvenil, Mirim e Seleções Coloridas (de 1946-48). Claro que com a entrada da Editora Abril no mercado, através da publicação de O Pato Donald em 1950 e de Mickey em 1952, se iniciou um enorme fluxo que ocorreu em simultâneo com um aumento gradual da população estudantil portuguesa. Estes dois fatos levaram ao incremento no consumo deste tipo de literatura e produziram a tal massificação, logo a partir dos anos 60, que continuou depois pelos anos 70 e culminou nos anos 80, já com edição localizada. Por essa época apenas algumas revistas vinham do Brasil.

Em Maio de 1979 foi criada em Portugal a Editora Morumbi, Ld.ª, com sede em Lisboa e detida a 100% pela Editora Abril com o objetivo de editar as revistas Disney em Portugal.
Mickey foi a primeira em Abril de 1980, seguiram-se o Almanaque do Patinhas em Maio de 1980 (outra nota: os leitores/fãs que estavam habituados ao tratamento, de certa forma carinhoso, do título Almanaque do Tio Patinhas, quando a editora “deixou cair” o Tio, sentiram que a revista ficou assim algo impessoal...), o Pato Donald e o Pateta em Maio de 1981. Mais tarde seguiram-se várias outras: Almanaque Disney, Almanaque do Patinhas e do Mickey, Edição Extra, etc.

As empresas que ao longo dos anos publicaram as revistas Disney em Portugal foram alterando as suas designações e a estrutura do capital. A Editora Morumbi deu lugar à Editora Abril Morumbi.Posteriormente a Controljornal assumiu 50% do capital que a Abril detinha em Portugal e a empresa passou a designar-se Abril/Controljornal.
Em 1999 a Abril e a Controljornal juntaram-se aos suíços da Edipresse.
Em 2003, com a saída da Abril, nasceu a Edimpresa ficando a Impresa e a Edipresse como acionistas.
Em maio de 2008 a Impresa assumiu a totalidade do capital da Edimpresa.

 O SURGIMENTO

É do conhecimento comum que durante muitos anos (mais de quarenta!) um jornal diário, impresso no Porto e de seu título “O Primeiro de Janeiro” publicou tiras de “O Corisco” (Banzé), do Mickey e de outros heróis Disney. Este mesmo jornal, no seu suplemento de Domingo e durante o seu período áureo, publicava histórias Disney ao ritmo de uma prancha por edição.  

Uma nota pessoal: A minha mãe colecionou muitas delas nos anos 50 e eu pude, ainda antes de saber ler, usufruir das maravilhas do Mundo Disney: “Curiosidades da Natureza”, “Ben e Eu”, “Gus e Jacques”, “Perri”, “O Leão Tímido” (Cordélio), “O Roubo da Locomotiva”, e tantas outras. Nessa melhor fase do jornal o meu pai sempre comprava “O Primeiro de Janeiro”, daí que até próximo do final dos anos 60 sempre acompanhei as histórias selecionadas pelo jornal.


Segundo informações obtidas, a publicação do suplemento iniciou-se em 28 de janeiro de 1948 e terá findado por volta de 1995. Esta data não é fácil de determinar porque o tal jornal desde 1978 padecia de problemas financeiros cada vez mais complicados que culminaram com a sua passagem a jornal regional em 1991.

Também durante os anos 60 e ainda nos 70 era comum aparecerem em revistas tiras ou pequenas histórias, licenciadas pela King Feature Syndicate. Por exemplo na revista “Crônica Feminina” há reporte de histórias a uma cor e no formato 220x150mm envolvendo o Mickey, o Donald e o Scamp (Banzé).
 


 Edição de 06/08/1967

 Edição de 14/02/1965

                                                   Edição ...

Além destas, um fato pouco conhecido, é que aconteceram duas tentativas de edição de revistas Disney, em ambos os casos relacionadas com o Mickey.

A primeira sucedeu em 1935. A revista “Mickey”, começou a ser publicada em 21 de novembro deste ano e o último número (58) viu a luz do dia em 31 de dezembro de 1936. A editora responsável pela edição foi “O Primeiro de Janeiro”.
A primeira série que decorreu até ao número 36 tinha 8 páginas e media 300x450mm e a segunda série, a partir do 37 tinha 16 páginas e era ligeiramente menor, 225x310mm. O preço de venda era de 1 Escudo. 
Diversas tiras do Mickey (curiosidade: Robin dos Bosques era traduzido para Rubim dos Bosques), do Donald (curiosidade: o nome atribuído era Pato Donal) e do Lobão (Lobo Mau). Também eram apresentadas histórias de outros autores e editoras (non-Disney), nomeadamente Katzenjammer Kids, Little Annie Rooney, Pete the Trump e Jungle Jim.

A primeira página, as centrais e a última página eram em cores. As tiras de jornais norte-americanos eram publicadas em português, embora com um atraso de alguns meses.


  
NOVAS TENTATIVAS

A segunda aventura editorial envolvendo revistas Disney, em Portugal, iniciou-se em 26 de agosto de 1955. Teve por título “Rato Mickey”. Inicialmente com periodicidade semanal passou a quinzenal e a sua vida terminou alguns meses depois (em 16 de dezembro de 1955), tendo sido publicadas apenas 13 revistas.

Pretendiam os editores transpor para Portugal as histórias publicadas pela Dell onde “estrelavam” os personagens Disney. As capas e as histórias do Pato Donald eram de Carl Barks e as do Mickey de Paul Murry.
Convém ter a noção que, por essa época, já chegavam a terras lusas e com algum sucesso “O Pato Donald” e o “Mickey”, editados no Brasil.
A revista tinha 16 páginas, das quais 6 a cores, e apresentava-se no formato de 210x285mm. O preço era o mesmo que custava “O Pato Donald” importado do Brasil.
A revista era propriedade de Aguiar & Dias, Ld.ª e foi distribuída pela Agência Portuguesa de Revistas que tinha larga experiência neste tipo de publicações. Dizem no entanto os especialistas que foram cometidos vários erros graves que terão levado ao desfecho menos afortunado. Referem a redução e remontagem das histórias, bem como a utilização aleatória das páginas a cores em várias histórias em vez de serem usadas para a história principal. Pior de tudo parece ter sido a opção por histórias de continuação “solução que ignorava o imediatismo das crianças e que tinha já sido abandonada, tanto pelas revistas americanas, como pela brasileira que lhe eram afins”, segundo é escrito por um dos autores consultados.

É curioso que o Gerd Foerster cita esta questão e a forma como foi abordada primeiro na Argentina e depois no Brasil.

Pelo que li as sobras de tal insucesso foram tão grandes que, alguns anos mais tarde, a distribuidora tomou a decisão de as vender por atacado. É por isto que não se percebe porque é tão difícil encontrá-las na
actualidade. 

 Capa de "Rato Mickey" n.º 1

Ficha técnica de "Rato Mickey" n.º 1 publicado em Portugal em 1955


Na fase da Editora Morumbi, a partir de Abril de 1980, o Mickey passou a ser publicado com a mesma periodicidade de irmã brasileira. No início até o alinhamento das histórias principais coincidiam com as da edição brasileira (a #1 correspondeu à #327 e assim sucessivamente).

A primeira série do Mickey foi publicada desde maio de 1980 até ao número 190 em dezembro de 1991. 

"Acho também que tanto o Tio Patinhas como o Pato Donald, tiveram mais alguns números (poucos) para além daqueles informados no site. O que aconteceu foi que a editora republicou integralmente alguns números anteriores só mudando as capas. Essa sequência só era visível junto ao código de barras, coisa que não assume grande importância pois essas revistas foram uma tentativa algo desesperada de escoar os stocks da editora." (Observações de Rui F Maria).

"Sim e há outras publicações acerca das quais se levantam dúvidas complicadas, por tal motivo a minha decisão de as omitir por ora. Um exemplo: "Pateta Especial" - até o Leonardo de Sá dá conta das suas incertezas em http://historiasdosquadradinhos.blogspot.com/2009/01/pateta-especial-da-abril-portuguesa.html#comments" (Nota do Autor) 


Entre setembro e novembro de 1988 foi realizada uma edição especial de 3 números em comemoração dos 60 anos do Mickey.


Foi também publicada, com início em 2004, uma coleção com as dimensões de 120x150mm, em 9 volumes e com o título “Obras-Primas da BD Disney”. Foram publicados, entre outros, Dragonlords, dois volumes com A Saga do Tio Patinhas e os Episódios Extraordinários e vários com obras de Carl Barks.

Outras edições dignas de nota:
Edição Extra, As Melhores Histórias..., Disney Especial, Disney Extra e Heróis Disney. 

EPÍLOGO

Em 2006 todas as revistas Disney que ainda eram editadas em Portugal, as correspondentes ao ciclo que se tinha iniciado em Abril de 1980, cessaram definitivamente a sua publicação.
No entanto a Edimpresa e a Disney têm atualmente um contrato, pelo menos até ao fim de 2010, que prevê a continuação de títulos das três principais publicações internacionais da Disney, com periodicidade mensal:
WITCH, Princesas e Fadas.

FONTES



AGRADECIMENTOS E CRÉDITOS

Uma boa parte das imagens apresentadas foram recolhidas no I.N.D.U.C.K.S.

Ao Arquiteto Leonardo de Sá, um dos maiores especialistas portugueses de Banda Desenhada, devo um
agradecimento pela disponibilidade demonstrada.

Pesquisa: Mário Leitão


*Este texto, da autoria de Mário Leitão, foi retirado (devidamente autorizado) do site  EsquiloScans. O original pode ser encontrado    
aqui


ATUALIZAÇÃO:

Em Dezembro de 2012 a Disney voltou a Portugal "pela mão" da Editora Goody! Esse regresso fez-se na forma de 2 publicações:  Disney Comix (publicação semanal) e Disney Hiper com 320 páginas (mensal)!


 








 
  
    (Disney Comix nº1)                                                            (Disney Hiper nº1) 

 
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